quinta-feira, 29 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
O túnel - texto e filme indicados pelo Bruno Perê
assunto muito extenso, né Bruno?
e independente a extensão do túnel, ele deve ser passagem, nunca permanência.
mas quando sabemos que o atravessamos?
talvez quando tivermos a coragem de anunciar a morte, de despedirmos-nos do que já se foi.
Te pergunto: pensando no sonho do Kurosawa, quem é o pelotão a quem você deve anunciar a notícia?
e independente a extensão do túnel, ele deve ser passagem, nunca permanência.
mas quando sabemos que o atravessamos?
talvez quando tivermos a coragem de anunciar a morte, de despedirmos-nos do que já se foi.
Te pergunto: pensando no sonho do Kurosawa, quem é o pelotão a quem você deve anunciar a notícia?
A arte Cavalheiresca do Cavaleiro Zen- indicação do Edson
... "Suas flechas não atingem o alvo", observou o mestre, porque espiriualmente não percorrem grandes distâncias.
Logo, o tiro não depende do arco, mas da presença de espírito, da vivacidade e da atenção com que é manejado."
" a aranha dança sua rede sem pensar nas moscas que se penderão nela. A mosca, dançando despreocupadamente num raio de sol, se enreda sem saber o que a esperava. Mas tanto na aranha, como na mosca, algo dança, e nela o exterior e o interior são a mesma coisa".
Te pergunto, Edson:
O que dança em você?
Logo, o tiro não depende do arco, mas da presença de espírito, da vivacidade e da atenção com que é manejado."
" a aranha dança sua rede sem pensar nas moscas que se penderão nela. A mosca, dançando despreocupadamente num raio de sol, se enreda sem saber o que a esperava. Mas tanto na aranha, como na mosca, algo dança, e nela o exterior e o interior são a mesma coisa".
Te pergunto, Edson:
O que dança em você?
João Candido Silva - Luanda
"na arte naif, tudo é expressão do sentimento de constante recomeço da via"
As finas, longas e fortes mãos do artista plástico João Candido impressionam. São as principais ferramentas de um pintor e escultor que, ao lidar com pincéis ou com madeira, expressa um raro talento para trabalhar com diversas técnicas, atingindo resultados de elevado esmero artístico.
Ciente de seu oficio, Candido devota a cada obra uma atenção especial.Pelo seu virtuosismo técnico, ele pode ser colocado numa vertente que oscila entre a delicadeza de cores próximas ao impressionismo e o vigor expressionista dos traços e imagens. Seu trabalho, seja em madeira ou tela, é o resultado de mãos calejadas, experientes e sensíveis no trato com diversos materiais.
Para Cândido, ARTE È UMA FORMA DE SOBREVIVENCIA, uma maneira de extravasar sentimentos e de manter a cultura viva. Talvez por essa consciência, suas composições, ora plenas de imagens ora com menos elementos, ora mais complexas, ora mais simples, têm em comum um alto padrão de qualidade, atingido pela dedicação extrema.
A mente criativa de João Candido está constantemente em busca de novos desafios, seja com pincéis ou com ferramentas para trabalhar a madeira. Se mãos direcionadas pelo ódio podem matar, aquelas orientadas pelo amor à vida, como as do artista mineiro,mostram, por meio da arte, como telas e esculturas podem ser as expressões mais divinas do ser humano. "Naif, de mala e cuia"
Pergunta para Luanda, ainda impregnada da beleza dos livros que me apresentou:
Pensando na tua família, o que você deve espiar e o que você expiar ?
As finas, longas e fortes mãos do artista plástico João Candido impressionam. São as principais ferramentas de um pintor e escultor que, ao lidar com pincéis ou com madeira, expressa um raro talento para trabalhar com diversas técnicas, atingindo resultados de elevado esmero artístico.
Ciente de seu oficio, Candido devota a cada obra uma atenção especial.Pelo seu virtuosismo técnico, ele pode ser colocado numa vertente que oscila entre a delicadeza de cores próximas ao impressionismo e o vigor expressionista dos traços e imagens. Seu trabalho, seja em madeira ou tela, é o resultado de mãos calejadas, experientes e sensíveis no trato com diversos materiais.
Para Cândido, ARTE È UMA FORMA DE SOBREVIVENCIA, uma maneira de extravasar sentimentos e de manter a cultura viva. Talvez por essa consciência, suas composições, ora plenas de imagens ora com menos elementos, ora mais complexas, ora mais simples, têm em comum um alto padrão de qualidade, atingido pela dedicação extrema.
A mente criativa de João Candido está constantemente em busca de novos desafios, seja com pincéis ou com ferramentas para trabalhar a madeira. Se mãos direcionadas pelo ódio podem matar, aquelas orientadas pelo amor à vida, como as do artista mineiro,mostram, por meio da arte, como telas e esculturas podem ser as expressões mais divinas do ser humano. "Naif, de mala e cuia"
Pergunta para Luanda, ainda impregnada da beleza dos livros que me apresentou:
Pensando na tua família, o que você deve espiar e o que você expiar ?
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
... e você me fez refletir sobre o conto que te dei, "A terceira margem do rio". Eu que sempre pensei que manter-se no leito, e forçar uma estada no mais dificil de nós fosse a solução, percebo que o fluxo do rio é mais dificil ainda, pois quando caminhamos, levamos tantos outros conosco.
Obrigada pela sua reflexão
Angela
Obrigada pela sua reflexão
Angela
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Por que o mar não tem raíz
Na última segunda, dia 05 de outubro, resolvi retomar o tal do registro. Acho que todos já desencanaram dele, não funciona, não no grupo, sei lá por que. Tem muitas coisas das quais eu sei, mas prefiro saber lá.
E foi também por isso que resolvi registrar. Bom, para começar pelo começo, no período da manhã tivemos um encontro com Fabiana Ribeiro, contadora de histórias, educadora, interiorana, bonita e muito forte, de fala simples. Foi essa a impressão que tive. Ela contou histórias.
Fiquei interessada em ver a Estela também contar histórias, aliás a gente vem tentando se convencer de que, santo de casa faz sim milagre, daí o santo contador de história não vem?
Mas não foi por isso que resolvi voltar ao papel. Quis primeiro recontar a minha história. O que me moveu foi meu total fracasso em exprimir o que ilustrei com tanto entusiasmo. Pensei, se der tempo, conto de novo, do jeito que tem que ser feito! E se chorar não faço mais!
Mas não deu tempo, também não acho mais necessário, ouvir o professor Jair falar já me fez acalmar e compreender algumas coisas que não estavam organizadas, nem estariam numa segunda apresentação, mesmo sem choro.
O que de mais importante ele disse, para mim, é que mar não tem raiz. E eu sempre pensei de algum modo estar presa lá, no mar.
Também pensava que minha faculdade não fazia mais sentido, e sim, ela faz, fiz jornalismo porque gosto de escrever e pesquisar. Também posso brincar com isso, é muito divertido montar rádio e falar com segurança, mesmo achando que não uso nada do que aprendi na faculdade. Talvez um dia pare de me incomodar as perguntas sobre que dia vou aparecer na Globo, ou escrever “pelo menos” num jornal local.
Pensei que minha amiga que se foi me ensinou por sua ausência que a morte é coisa presente na vida. Mas isso eu ainda não aprendi, mas aprendi outras coisas, decorei a letra de “Meu amigo Pedro” do Raul Seixas. “Quem te fez com ferro fez com fogo, Pedro. Pena que você não sabe não”.
Pensei que minhas relações familiares tivessem a mesma importância das minhas relações de amizade, as quais percebi que muitas vezes me dedico mais, o que já vinha repensando desde os encontros com a Raquel Trindade e com Maurinete e Eugênio Lima.
Pensei, mas talvez isso nunca esteja no passado realmente, são inquietações pessoais despertadas e estas, sempre fazem bem.
Pensando para fora, me colocando a deriva novamente, outro incomodo foi sobre fazer parte de um movimento grande, maior do que eu, minha vida e minha história. O movimento de uma juventude, de um tempo, de uma história.
Eu tenho minhas muitas reservas em pensar assim, não que ache que isso não é verdade. Estamos sim construindo algo, e também acho que é grande. Mas o que é isso? Como eu faço parte? Produzindo, presenciando, há muitas formas, mas meu pensamento é mais profundo.
O Jair falou sobre nossa audácia. Ocupamos um lugar que não nos foi reservado, reclamamos liberdades que não foram planejadas para nós. Mas quem somos nós?
Para ficar menos subjetivo vou exemplificar. Esse movimento de buscar raízes me fez lembrar conversas com minha mãe sobre sua infância. Ela nasceu em 1965, no fim do período militar ela era uma jovem, no entanto ela não se lembra desse momento histórico. Meus avós não foram perseguidos nem desapareceram. Por parte de pai a mesma coisa.
Coincidência ou não, minha avó materna trabalhou como empregada doméstica depois de largar a roça de Segredo, na Bahia, e vir para São Paulo. Meu avô morreu quando minha mãe ainda era pequena e meus avós paternos tinham chegado a pouco de uma das roças de Minas Gerais, meu pai sempre foi eletricista.
Mas minha mãe se lembra de que no bairro de Diadema, onde morava na infância, havia apenas duas casas, a dela e a de uma velha estrangeira, dona Roma, que juntava lixo e vivia com um gato e um cachorro. Lá tinha um balanço que ia alto, até perto da única avenida que passava perto. Ela se lembra do esquadrão da morte, que assassinou o noivo de sua irmã mais velha ninguém saía depois das 10 da noite. Se lembra que essa mesma irmã foi seqüestrada pelo próximo namorado e morreu numa crise de bronquite asmática, presa na casa onde ela era mantida trancada e conversava com as vizinhas por uma janela quando o namorado saia depois de lhe dar uma surra.
As lembranças do meu pai são mais tranqüilas, ele namorava muito nos bailes que freqüentava com seus tios e irmãos.
São lembranças alegres e tristes e até de tortura, mas que passam longe da história do país, ou da juventude militante que os livros nos contam.
Falei de coincidência, pois parece que foi a única coisa que uniu a vida dessas pessoas ao momento histórico. Entendo perfeitamente que lugares estavam reservados para eles e estariam reservados para mim caso tivesse estudado só um pouquinho menos.
Comparando essas histórias à minha, temo que minha, ou a nossa, única conquista tenha sido ascender à uma classe, política e social, talvez um dia econômica, à qual não pertencíamos e por isso temos outras preocupações e desejos.
Na adolescência, no bairro onde eu moro, eu passei a fazer parte de uma minoria meninas adolescentes sem filhos e na mesma época também entrei para outra minoria quando meu pai fez questão de colocar seu nome na minha certidão de nascimento.
Eu hoje faço parte de uma minoria negra e de família pobre que teve acesso à uma boa universidade.
Eu hoje faço parte de um grupo menor ainda que pensa o país e as relações pessoais politicamente.
Eu hoje faço parte de um grupo de 30 pessoas que tem um tempo às segundas-feiras para pensar nisso.
Num país onde 50% das pessoas não concluiu o ensino fundamental, que espaço eu conquistei? Onde meus vizinhos estarão nos próximos livros de história?
Amanda Prado
09.10.2009
E foi também por isso que resolvi registrar. Bom, para começar pelo começo, no período da manhã tivemos um encontro com Fabiana Ribeiro, contadora de histórias, educadora, interiorana, bonita e muito forte, de fala simples. Foi essa a impressão que tive. Ela contou histórias.
Fiquei interessada em ver a Estela também contar histórias, aliás a gente vem tentando se convencer de que, santo de casa faz sim milagre, daí o santo contador de história não vem?
Mas não foi por isso que resolvi voltar ao papel. Quis primeiro recontar a minha história. O que me moveu foi meu total fracasso em exprimir o que ilustrei com tanto entusiasmo. Pensei, se der tempo, conto de novo, do jeito que tem que ser feito! E se chorar não faço mais!
Mas não deu tempo, também não acho mais necessário, ouvir o professor Jair falar já me fez acalmar e compreender algumas coisas que não estavam organizadas, nem estariam numa segunda apresentação, mesmo sem choro.
O que de mais importante ele disse, para mim, é que mar não tem raiz. E eu sempre pensei de algum modo estar presa lá, no mar.
Também pensava que minha faculdade não fazia mais sentido, e sim, ela faz, fiz jornalismo porque gosto de escrever e pesquisar. Também posso brincar com isso, é muito divertido montar rádio e falar com segurança, mesmo achando que não uso nada do que aprendi na faculdade. Talvez um dia pare de me incomodar as perguntas sobre que dia vou aparecer na Globo, ou escrever “pelo menos” num jornal local.
Pensei que minha amiga que se foi me ensinou por sua ausência que a morte é coisa presente na vida. Mas isso eu ainda não aprendi, mas aprendi outras coisas, decorei a letra de “Meu amigo Pedro” do Raul Seixas. “Quem te fez com ferro fez com fogo, Pedro. Pena que você não sabe não”.
Pensei que minhas relações familiares tivessem a mesma importância das minhas relações de amizade, as quais percebi que muitas vezes me dedico mais, o que já vinha repensando desde os encontros com a Raquel Trindade e com Maurinete e Eugênio Lima.
Pensei, mas talvez isso nunca esteja no passado realmente, são inquietações pessoais despertadas e estas, sempre fazem bem.
Pensando para fora, me colocando a deriva novamente, outro incomodo foi sobre fazer parte de um movimento grande, maior do que eu, minha vida e minha história. O movimento de uma juventude, de um tempo, de uma história.
Eu tenho minhas muitas reservas em pensar assim, não que ache que isso não é verdade. Estamos sim construindo algo, e também acho que é grande. Mas o que é isso? Como eu faço parte? Produzindo, presenciando, há muitas formas, mas meu pensamento é mais profundo.
O Jair falou sobre nossa audácia. Ocupamos um lugar que não nos foi reservado, reclamamos liberdades que não foram planejadas para nós. Mas quem somos nós?
Para ficar menos subjetivo vou exemplificar. Esse movimento de buscar raízes me fez lembrar conversas com minha mãe sobre sua infância. Ela nasceu em 1965, no fim do período militar ela era uma jovem, no entanto ela não se lembra desse momento histórico. Meus avós não foram perseguidos nem desapareceram. Por parte de pai a mesma coisa.
Coincidência ou não, minha avó materna trabalhou como empregada doméstica depois de largar a roça de Segredo, na Bahia, e vir para São Paulo. Meu avô morreu quando minha mãe ainda era pequena e meus avós paternos tinham chegado a pouco de uma das roças de Minas Gerais, meu pai sempre foi eletricista.
Mas minha mãe se lembra de que no bairro de Diadema, onde morava na infância, havia apenas duas casas, a dela e a de uma velha estrangeira, dona Roma, que juntava lixo e vivia com um gato e um cachorro. Lá tinha um balanço que ia alto, até perto da única avenida que passava perto. Ela se lembra do esquadrão da morte, que assassinou o noivo de sua irmã mais velha ninguém saía depois das 10 da noite. Se lembra que essa mesma irmã foi seqüestrada pelo próximo namorado e morreu numa crise de bronquite asmática, presa na casa onde ela era mantida trancada e conversava com as vizinhas por uma janela quando o namorado saia depois de lhe dar uma surra.
As lembranças do meu pai são mais tranqüilas, ele namorava muito nos bailes que freqüentava com seus tios e irmãos.
São lembranças alegres e tristes e até de tortura, mas que passam longe da história do país, ou da juventude militante que os livros nos contam.
Falei de coincidência, pois parece que foi a única coisa que uniu a vida dessas pessoas ao momento histórico. Entendo perfeitamente que lugares estavam reservados para eles e estariam reservados para mim caso tivesse estudado só um pouquinho menos.
Comparando essas histórias à minha, temo que minha, ou a nossa, única conquista tenha sido ascender à uma classe, política e social, talvez um dia econômica, à qual não pertencíamos e por isso temos outras preocupações e desejos.
Na adolescência, no bairro onde eu moro, eu passei a fazer parte de uma minoria meninas adolescentes sem filhos e na mesma época também entrei para outra minoria quando meu pai fez questão de colocar seu nome na minha certidão de nascimento.
Eu hoje faço parte de uma minoria negra e de família pobre que teve acesso à uma boa universidade.
Eu hoje faço parte de um grupo menor ainda que pensa o país e as relações pessoais politicamente.
Eu hoje faço parte de um grupo de 30 pessoas que tem um tempo às segundas-feiras para pensar nisso.
Num país onde 50% das pessoas não concluiu o ensino fundamental, que espaço eu conquistei? Onde meus vizinhos estarão nos próximos livros de história?
Amanda Prado
09.10.2009
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terça-feira, 6 de outubro de 2009
A manutenção da árvore sem raiz – Flávio Roberto Chaddad
Saindo de casa olhei mais para o horizonte,
E não vi nada. Não tinha jeito de olhar nada!
Olhava as pessoas nas ruas e vez outra
Aquilo me chamava à atenção,
Mas muito pouco me surpreendia…
Era tudo ligeiramente igual,
E elas andavam e não iam para lugar algum.
Refleti sobre isso mais um pouco,
Mas elas iam e não paravam.
Faziam movimentos mecânicos.
“Sabiam” o que estavam fazendo.
A maioria era coordenada e andavam para traz…
Fiquei detido por aqueles movimentos,
Vi o espírito da moralidade, o dogmatismo,
A sociedade fraca e unida por aquilo que não existe:
A manutenção da árvore sem raiz, o transcendental,
Criada pelos próprios seguidores.
Como é insano isto?
Como cultivar algo fruto de uma imaginação decadente e ver nesta “salvação” metafísica algo imutável?
Como pode uma árvore sem raiz sustentar-se, manter-se em pé?
sábado, 3 de outubro de 2009
Reflexão sobre a exposição
Paraísos possíveis
Reflexão produzida pelos educadores do Instituto Tomie Ohtake especialmente para o Encontro de Professores, como uma das inúmeras possibilidades de desdobramentos e pensamentos sobre a exposição em cartaz.
Paraísos possíveis de perguntas?
“As vísceras ficam com as mulheres. Fervem-nas, e com o caldo fazem uma massa fina chamada mingau, que elas e as crianças sorvem. As mulheres comem as vísceras da mesma forma que a carne da cabeça. O cérebro, a língua e o que mais as crianças puderem apreciar, elas comem. Quando tudo tiver sido dividido, voltam para casa e cada um leva seu pedaço” (Hans Staden)
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo”
João 6:50
A exposição “Paraísos Possíveis” dos artistas Dias & Riedweg em cartaz no Instituto Tomie Ohtake de 23 de setembro a 25 de outubro de 2009 atravessa nossos corpos. Ao adentrar o espaço expositivo e tomar contato com o projeto FUNK STADEN (2007 – 2008) percebemos que algo nos extrapola, algo perfura o nosso modelo de “Eu”. Há um excesso de vida que incomoda nossos olhos, presente em cada movimento, em cada batida de som e em cada gingado dos corpos.
O projeto da dupla de artistas contemporanizou a linguagem do funk carioca a partir da justaposição e da colagem de imagens produzidas pelas memórias do navegador alemão Hans Staden, que registrou sua experiência com o grupo dos Tupinambás , com imagens atuais do pancadão carioca que enche os galpões dos morros nas noites de sexta e domingo ao custo de cinco reais para os homens e gratuito para as mulheres.
Existiria um abismo entre os povos tupinambás e os funkeiros cariocas? Quais as proximidades e distanciamentos entre eles? Qual a distancia entre nós que assistimos as notícias jornalísticas depreciativas sobre o funk na sala confortável de nossas casas e o olhar etnocêntrico de Hans Staden? Hans Staden habita os nossos corpos? Somos realmente capazes de tentar entender o outro a partir de seus referenciais, ou ainda tentamos “catequizar” o diferente, o “estranho” o “exótico”?
O movimento atual do funk carioca (pancadão/proibidão) seria um clichê diante de nossos modelos de vida? Ou não estamos prontos para lidar com essa experiência estética? O funk é estético? Quais são os espaços que produzem a cultura que consumimos? Conseguiríamos identificá-los? Seríamos produtores de cultura? Onde se produz cultura? O funk carioca é cultura? Para quem?
Recuando no tempo, a prática da antropofagia praticada pelos tupinambás foi uma manifestação cultural? Os tupinambás eram primitivos? Bárbaros? Atrasados? Sem almas? Hereges? Deveriam ser catequizados pelo ferro e fogo da igreja católica? Nossos olhares ainda carregariam marcas do etnocentrismo ao olhar para o outro culturalmente diferente de nós? Quem é esse outro? Nós também não seríamos os outros?
Essas questões são algumas das centenas de perguntas que nos fazemos ao mergulhar no trabalho Funk Staden. As três projeções, as fotos e a música alta ampliam os detalhes das pessoas que vivem a cultura do funk em seu cotidiano. Cada mancha de pele, cada dente torto, cada curva dos corpos, cada movimento sensualizado e erotizado, cada rebolado - que é o gingado do sob e desce dos milhares de degraus das escadarias dos morros cariocas - aparecem diante de nossos olhos destruindo os clichês que estamos agarrados e que formatam o nosso modelo de “eu”, sujeito”, “indivíduo” diante do mundo. Eu iria a um espaço cultural ver uma apresentação de funk? Eu iria a um baile funk? E você?
O trabalho nos atravessa, pois (re) apresenta a estética presente fora dos espaços expositivos e fora do circuito das artes plásticas. Durante o século XX, diversos artistas tentaram expandir a discussão proposta pelas artes a partir de trabalhos e ações que misturaram arte e vida. Hélio Oiticica, por exemplo, a partir de 1964 passou a conviver no morro da Escola de Samba da Mangueira e levou o samba junto com a comunidade da “favela” para o museu na abertura de uma exposição. Um ano depois, levou uma manifestação repleta de parangolés na abertura da exposição Opinião 65 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Nesse sentido o trabalho Malas para Marcel (2006 – 2008) que corresponde a um conjunto de doze malas, extrapola e problematiza a relação entre o externo e interno, público e privado, real e virtual, material e imaterial a partir de imagens metalingüísticas que partem do interior de malas. Malas falando de malas, de seus caminhos, percursos e andanças pela cidade do rio de janeiro.
Além dessas questões referentes ao outro e ao olhar que se identifica se reconhece, se distancia, temos o uso da linguagem cinematográfica como suporte, além do uso de gravuras e fotografias. Eles registram o cotidiano a partir da articulação, montagem, e colagem de cenas e momentos criando uma barreira limítrofe entre o documentário e a ficção.
O “outro” como busca contínua em seus trabalhos aparece novamente na videoinstalação A Casa (2007). Quantos “eus” nossos corpos abrigam? Eu sou somente um? Quais são os espaços e lugares que permitem com que os outros sujeitos que me habitam aflorem?
A experiência proporcionada pelo espaço expositivo, de forma geral, permite que o pensamento seja ativado, pois, como apontaria o filósofo Gilles Deleuze, o pensar não é uma faculdade natural do homem, não é uma competência humana, pois pensamos sob o signo de uma violência, de um abalo em nosso corpo. Durante muito tempo, pensamos que tínhamos controle do corpo, como se a consciência comandasse todas as esferas de nossas vidas, mas será que ela não capta somente ecos da nossa existência? Ela é capaz de captar todos os nossos movimentos internos?
O som forte do “pancadão” no projeto exposto perfura nossa pele e faz com que enxerguemos a realidade através de outros sentidos (de forma sinestésica), ao passo que a mente tenta entender essa experiência estética em conflito com os outros referenciais que temos a respeito dessa manifestação cultural. Portanto, o conjunto de dez obras expostas permite com que dilatemos nossa compreensão entre o real e o ficcional ao passo que reapresenta outras estéticas presentes no cotidiano.
Maurício Silva – Educador do Instituto Tomie Ohtake
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Textos que fiz no dia de nossa visita visita ao MASP,
na verdade é uma série de doze poemas que fui fazendo durante a palestra e até agora não vi a oportunidade/coragem de posta-los aqui.
mas aos poucos vai saindo como desmanda o figurino
abçs a todos!
(abre parentes)
pensei, desejam permanecer mais tempo
não perguntei nada
estou fantasiando
as soluções são muito comprometedoras
aproxime-se para ver a obra interlocutória correndo o risco de ser identificada pelo partir do princípio construtor de conhecimento, criando formas de compromissá-lo com o além da bela moldura:
conhecença de crianças que correram para atender necessidades de outro tipo
oportunidades em que adultos não acreditam
Não decolamos valores dados em idéias sobrepostas a algo dentro da face dando para ver somente através dos olhos
para enxergar tem que ser vestir o nada
pode ser a única vez de indivíduo preparado ao acolhedor inesquecível
explorando o máximo
perdemos por falta de tempo
Não acredito que houve poetas de ossos separados a carne
dai o valor do liquido entre carne e osso
vai dizer que você nunca sentiu as vibrações de onde pisa
Sempre ha tempo entre o que nos restringe a
ver somente como as coisas se apresentam
se apresenta a visão além da carcaça:
são amêndoas que podem acabar rapidamente com um caderno que fotografa instantes
transformando remorsos em mordidas
vinagre com gosto de vinho
Salada de Deus Baco:
meu avô se chamava Dionísio Pastore
era marceneiro, homem calado, só falava pauladas
afiadas como um machado na hora certa
de tão calmo que era
Sempre quis a oportunidade de dizer isto
abri a oportunidade que esquiva grandes desafios
acredite que escritos são espelhos
automaticamente se enxergará nas
oportunidades demonstradas
fazendo ser simples abrir parentes
(capaz)
Como faz para quebrar
as regras do subjetivo
quebrando
como fazer o pensamento
do papel executado
executando
como romper com seu redor
rompendo ao redor
como fugir de trânsitos do
pensamento em garrafas
transitando
como evitar as palmas
cegas ao final
delatando entre pálpebras
como abrir pálpebras sem
aparelhos esterilizados
escrevendo em bisturis
tomado por uma doença comum de não dar vazão criativa a criatividade
liberto pelo solavanco da gaita que tentava incluir no não ritmo da música.
O poeta é inimigo do ritmo.
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