quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Cropus herméticus


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Segunda feira, dia 23/11, após um caloroso debate sobre literatura envergada a poesia e uma conversa com o Odair, sobre termos direito ao que nos foi roubado, como uma simples olhada ao céu, ou mais grave, que reflete no impedimento de realizações e desejos, vontades e objetivos, sociais e pessoais, escrevi a poesia que acompanha o fim deste texto, mas antes tenho perguntas inquietantes, que faço a mim e hoje compartilho a vocês.
Como podemos até hoje estarmos restrito a termos, e o preconceito contra a palavra hemética?
O que entendo como hermetismo:
Hermes Trimegisto, deus do conhecimento sobre a palavra e o verbo - mistura de Hermes (Deus grego associado a Mercúrio em Roma- deus das correspondências, correspondente da sabedoria de Deus) e de Toth – (Deus pertencente ao panteão egípcio, deus da sabedoria, secretário e arquivista das sabedorias dos Duses)
Hermetismo, prática da sabedoria oculta, do auto conhecimento e do conhecimento sobre o universo, nosso entorno, no renascimento, com a escrita hermética se criou a magia hermética, forma de tentar desvendar o oculto.
Posso enxergar o que aconteceu, assim como várias palavras ao decorrer do tempo e as mudanças sociais, foram treinadas a carregar com sigo vícios e amarras, com o hermetismo não seria diferente.
É lógico que deixariam o hermetismo com uma carga pejorativa a nós, estudantes ou não, fazendo com que achemos que o que é difícil de se compreender não é pra gente – isso pode ser claramente visto nos jovens de hoje, que temem a leitura como o diabo foge da cruz, temos medo do difícil, pois pobre gosta de coisas simples. Poderia divagar sobre isto e com certeza chegaria em uma clara e até hoje visível, manipulação de classes onde o hermetismo fica restrito a uma determinada classe, guardada a sete chaves pelos professores de universidades e a quem, com eles pode conseguir ultrapassar esta barreira. Ou seja, qualquer um que esteja longe de ser um curandeiro de bairro ou que não tenha formação acadêmica, hermética. Isto reaparece hoje em dia, como foi sempre: de não termos direito de contemplarmos o céu em nossas poesias, à não podermos buscar alternativas para nossos problemas diários, permanecemos a eles e só temos o direito de restar a crítica pela crítica - reclamarmos, sem mira na solução. Padecemos em uma arte sintomática, não temos vozes além da reclamação, do que já esperam de nós. Não nos damos às nuvens que reflete nosso interno deis de sempre, deis da era primitiva, pois não é de se espantar que chegamos vivos até aqui, passamos na seleção natural. As pedras não se comunicam mais com as gentes, como disse Benjamim em “O narrador”, sem conselhos, andamos a deriva pelos tormentos da vida. Somos sintomáticos, e para nós é isso que basta, pois somos o que somos e só.
Proponho além de uma revisão da palavra hermética / hermético – que diz nossos vícios perante ao verbo. Proponho uma retomada do conhecimento, nós temos o conhecimento, o direito de sermos intelectuais, estudar e entender diversos assuntos e assim aos poucos deixarmos de ser manipulados pela cordialidade que impera além das escolas e universidades. Podemos assim romper o populismo que diz: ah eles não entenderiam isso, isso é demais para eles, o povo não entende estas coisas – frases que nos massacram diariamente e nos restringe a programação da mídia e quando não, quando nos vemos ‘livres”, nos damos a animações culturais que nos limitam ao aplauso. Podemos ir além, vamos contemplar o céu, podemos buscar nele as respostas, assim como num livro grande e difícil – hermético. Podemos livremente nos lançar a entender ou sem entender (pois duvido da certeza e verdade deste termo perante a arte) uma instalação dita hermética. Podemos ir além do provável - de que não entenderíamos tal coisa, e o de com a barriga vazia não temos tempo de olhar além. Assim cessaríamos boa parte de nossas derrotas, como não conseguirmos se espressar sobre nós em um grupo maior que seis pessoas, esta pode ser a prova de que não estamos orientados, não sabemos sobre nós mesmos. Sonho em acabar com falas de: ah eu não entendo de arte, ah eu não sei ler a todos, falar em público (sendo que nós temos memória viva graças a perpétua oralidade), minha arte é isso e pronto. Sonhe em acabar com isso e as nuvens contidas em minha poesia e refletidas em nós, podem falar sobre nós mesmos, pois elas não estão mais nos céus, além do céu da poesia? Ou estamos tão ocupados para velas? Como nossos problemas podem ser maior que o céu, ou fazemos ele ser maior que o céu?

Para ajudar nestas respostas, posso sugerir algumas leis herméticas:
Mentalismo - "O Todo é Mente; o Universo é mental."
Correspondência - "O que está em cima é como o que está em baixo. E o que está em baixo é como o que está em cima" – esta rompe a guerra de classes.
Vibração - "Nada está parado, tudo se move, tudo vibra". – nós podemos ser um exemplo disto.
Polaridade "Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados" – rompe as verdades cientificistas, retoma o circular das coisas.
Ritmo -"Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação".
Gênero - "O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o gênero manifesta-se em todos os planos da criação".
Causa e Efeito - "Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nenhum escapa "

Não acredito em culpados além de nós, assim como não acho que as respostas que nos livram da culpa (o prometido perdão) estejam além de nós mesmos. No caso, as nuvens servem de espelho onde nos refletimos, nos enxergarmos em nós.
A poesia tem o poder de preencher o espírito mais do qualquer teoria até hoje dita como hermética:




a faca da caneta
gerando contexto
vim do ereto da arte
assunto além das cinzas
inexistente a morte
como um provérbio avô

pois tenho direito ao hermético das nuvens sim
fiz invisível sistema
me queriam cabresto
chão nas ruas
de meus problemas
mas fui além profecia




por :Bruno Pastore

Um comentário:

Instituto Tomie Ohtake disse...

Gostei do seu texto Past...

Precisamos romper com as amarras que há dentro de nós para depois quebrarmos com as amarras da vida...

mau