quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Poesias feitas por poetas da Cachoeirinha

Pessoal, pra inundar idéias para a programação... ou não!


A Divinéia, esta que Akins canta, fica perto do CCJ.

Divinéia

"Humildemente meu sentimento
de quem foi maltratado pela vida
e dos venenos feito
se possível a licença de lembrá os detento.

Não por nada, sou nada se for cada um no seu cada
palavras boas ouvi do Fininho e do Ada,
a liberdade dos meninos tarda, sorri os de farda
Milhares são as baixas,
as tias manifestam, queimam pneu põe faixa.

Os muleke tocam caixa, vão pro tudo, se não der racha,
mas relaxa só!
Carnaval, três dias de noite de suor,
esquecendo a neurose do mocó,
ó gingado da porta bandeira
vai acompanhado não só, força pra trincheira,

no ziriguidum da segunda com a terceira,
samba não acaba quarta-feira
terças e quintas se tem dor traga,
foge as pragas bate o repenique
e afogue as mágoas, dessa fonte Inajar beba da água.
Pura feita,
Maria-louca de acordes, vinda do peito voz roucas os pagodes
bandolins e toque os tamborins,
deixe que as cuícas chorem por mim,
e descarga toda,
essa vida amarga.

Que traz esses olhos tristes, que resiste, o choro acumulado
Que um par de anos insiste, em ter um fim, sim, sim, sim
calor e eloqüência, e um belo sorriso
nos olhos das crianças sinto cadência, é o que eu preciso

tenho paciência, caminho com eficiência aprendo mais vivência,
com nego véio e as coroas, nesses becos sujos uma pá de gente boa,
na humilde a gente chega, qualquer viela, um beijão pro Dega
no barraco da dona Istela, ei tô!
Num tô à toa na minha idéia
se o bloco é Inajar o terreiro é Divineia
Os batuques, devoção meu poema traz,
axé,
se der Inajar.

Num deu zebra, deu jacaré, e uma par de leão, pode bota fé.
Jão! Leal tipo nos campos vestindo preto e branco, sou franco.
E os treinos foram aos trancos e barrancos, c'os traumas e malícia
Aprendemos olhar frio os carros da polícia
O humilde sentimento que proponho
Que esses fila da puta num acabe com esse sonho
Os que atrasa nóis gruda, brasa se bagunça a casa.

Buda! Se nóis num se ajuda deus nos acuda
E abra vala,
se o caminho é aberto à bala.
Entristece as alas, endurece o mestre-sala,
Até os mais ruim sei que a dor entala
Maltrata corrói se pá, o peito de qualquer.

Brilhô meu zói, a bandeira do Inajar,
nos braços daquela mulher, e as ruas estreitas
meu coração laça, meus olhos na espreita
de um viver melhor é taça
aí cobre nosso semblante de sarro
quando não vestirmos o sufocante barro
o tamborim toca lá no coração
sei que Divinéia é favela em ação
as inspirações vem de lá, de cada um sofredor
quem faz com amor já é vencedor"

Akins Kinte


Vamos pra Palmares


Maria Tereza nasceu e foi criada na Cachoeirinha, onde vive até hoje. Acabou de lançar um livro novo, e foi homenageada no Sesc e Ação Educativa.

Pelas Vias

Pelas vias que vim, não havia sinais
Havia peles dos pés
Detalhes dos cheiros
E nunca brandura no ar
Era árido e seco por todo o lugar
E nem havia passantes ou gestantes
No meu andar respirava por dentro
Minha fome de querer ver um mar
Durante a vinda, vim vestindo caras!
Caras de mulher
E aprendendo mugidos, blecautes
Agora há rugidos em mim me dizendo ser fé
Pés, pisantes enormes
Possuídos sob minha própria poeira corpórea
Que de tanto andar, a lucidez me emociona
E mesmo sabendo do vazio do nada
Caminho, caminho pelo impulso único de mim
Animal que é o homem
O que se não sabe tateia
Movimentos sugerem idéias, passadas mais largas
Disciplinadas.




Aquilombados


É dos olhos que sai o mar efervescente dos aquilombados
É do mar que sai os olhos efervescente dos aquilombados
Nossos olhos, nossos tons são peles aparceiradas
É necessário profundidade pra imantar da terra verdades
Somos língua viva botando fogo no sereno
Na feira, no ônibus, na roda tem
Na fila, no trânsito, elevador também
Com suavidade, com feminilidade, com tudo que houver
necessidade
Observo enquanto errando acerto
Na São Paulo camaleão feminina, da norte mesmo ao sul
extremo
Salves!
A quem deve ser saudado
Minha terra tem fagulhas que me fazem enxergar que amor
é inteligência.
É preciso exercitar.

poemas de Maria Tereza - do livro "Negrices em Flor"

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