segunda-feira, 23 de março de 2009

Madalena, Madalena.

Madalena, Madalena.
parafraseando, Madalena Freire em encontro de 16/03/2009

Registro vida,
Privado e público, privado é o pessoal e público é de todos.
Toda pessoa humana tem o direito de ser autor, modelo democrático.
Tomar ciência, ser responsável pelo espaço em que atua, contracenar, intervir, comprometer-se com o espaço, ter a competência de influenciar e não somente ser influenciado.
Sendo assim, não se desconstrói o usuário e sim, cria-se o participante.

O registro faz o artista/educador, o registro é ferramenta essencial para o artista/ educador. Funciona como um fiel escudeiro, diário de bordo, de amigo a capacho, de cerca baixa a muro das lamentações. Seu funcionamento documental, histórico-fotográfico, ativador de memória e conhecimento, não pode ser descartado.
O registro deve ser feito para a educação do artista/educador e para o educador/artista educar.
Todo artista é por excelência um educador, forma opiniões, pois esta é a visão mítica da sociedade em relação ao artista e a funcionalidade da arte. Visão espectro e espectador, quem atua e quem contempla. Uma visão que exclui, que não educa transmitindo o conhecimento, registrando memória social e sim se esconde numa subjetividade umbigo-pessoal. Funcionam como se tudo ao seu redor estivesse em flores e não tivéssemos nada a fazer além de conceitualizar idéias e infortunios da vida pessoal em um populismo de gente acomodada.
Tenho mania de fundir a arte a vida e a vida/arte em sua prática, e na arte/ofício do registro não seria diferente. Sabe-se que o educando precisa ler registros em um incentivo a registrar/educar e o educador/artista precisa registrar, documentar para criar memória e com ela educar.
A arte é um ofício, um arte-ficio, o educando é um artista na função/arte de aprender.
Delega funções, técnicas assim como nós. Tenho como crença/verdade que nós artistas/educadores carregamos uma autoridade nas costas, um casco/morada.
Uma autoridade ligada ao poder, dissociada de autoritarismo, ditadura, e sim vista como autoria, presença, nos encararmos como autores, pessoas que podem(poder) e devem desprendidamente, ao natural atuar educando.
Para aprender precisa-se estar apto a tal função, para educar ocorre o mesmo processo, é preciso querer para si o compromisso de educar, se achar em tal função e sentir a leveza do fardo que é educar.
Se enxergando e assumindo tal função, fica fácil ver que as teorias não estão somente nos livros velhos cheios de conceitos e sim na prática diária da vida. A experimentação cotidiana abre portas para o novo, algo não experimentado, o qual exige muita coragem, afinco, dedicação e face aos tapas.
O registro vem para facilitar o complicado arte-fício que é educar/aprender, pois quem disse que aprender/educar é fácil, gostoso e não é cheio de duros esforços, exigindo diárias mudanças de hábitos que soam como quebra de mitos, rompimento com verdades/crenças e um esvaziamento da xícara mental, para que possa ser preenchida novamente com o chá de novos saberes/verdades.
Na prática, rompida com os mitos burocráticos que pairavam sobre a escrita, um registro, um relatório, documento, poesia ou anotação serve para nos situar em um contexto, referente ao ambiente/mundo-vida, estágio, situação, fato-conhecimento/memória e desburocratizar o pensamento.
Desburocratizando o pensamento/conhecimento, tendo ele corrente junto as águas do meu pensamento criativo e o decantando como gotas que caem sob o documento/registro levando-as em meu bolso a onde for, me sinto apto a andar livre e quebrar os grilhões que ainda restam.

“O bom artista/educador pode dizer: os inteligentes não me servem, venham a mim os burros”.

O educador pode sempre agir como um burro, dizendo:
“Tudo me diz respeito, tudo me impressiona , pois aprendo com tudo”.

“O inteligente já tem seus próprios registros como cérebros vivos, conhecimento”.

A nós, podemos sempre tirar proveito, não é bom dizer que já sabe, já viu, isso eu já sabia, pois tudo é uma revisitação, um texto nunca é o mesmo texto se lido duas vezes em distintas ocasiões, uma exposição nunca é a mesma, sempre irá se ver uma cara de espanto a cada coisa nova que se descobre/redescobre.
A moda é um exemplo, artes visuais é outro e como educadores, ativamos a janela da alma analisando a era da reprodutibilidade técnica. Vemos que tudo é circular e sempre estamos revisitando o passado para extrairmos o novo, fazendo da recriação o atual/revisitado, revisitado/atual.
A nós, o que vale realmente não é o que eu penso/sei-acredito ou o que você pensa/sabe acredita(teses) e sim o suco que podemos extrair ao espremer os pensamentos-idéias opostas. Educadores/educandos adoram suco de síntese, caem como uma luva na sede de conhecimento de quem quer realmente aprender.
Como é que nós fazemos uma síntese sobre o dia a dia, vida/aprendizado, educação, memória/conhecimento?
Escrevendo-se, se registrando.

Se você fosse sair com uma ferramenta, com que ferramenta você sairia?
Eu sairia com uma faca, faca de dois gumes, papel do educador, sempre enxergar de dois ou mais lados a mesma coisa. Faca como armamento/registro, documento/embasamento, poesia/vida, escritos/histórias-fatos, memória/conhecimentos.
Posso fazer uma alusão a faca/goiva, ferramenta do jogo de goivas usada para gravar os primeiros traços da matriz, demarcar/esboçar o desenho, no caso a troca de conhecimentos, arte/educação. Sinto estar com a faca dando as primeiras goivadas de um esboço-desenho/conhecimento. Estou esboçando um traçado para goivadas seguintes e mais profundas, para gravar uma nova matriz na arte educação, imprimir uma nova série de conhecimentos e ter um varal lotado de outras/novas opções, um cordel de inovações.

George Orwell

O sexto mandamento rezava: “Nenhum animal matará outro animal”.
Embora ninguém o mencionasse ao alcance dos ouvidos dos porcos ou dos cachorros, parecia-lhes que a matança ocorrida não se ajustava muito bem com isso. Quitéria pediu a Benjamim que lesse o Sexto Mandamento e Benjamim como sempre recusou a se envolver com tais assuntos, procurou Maricota. Esta leu para ela o Sexto Mandamento.
Dizia: “Nenhum animal matará outro animal, sem motivo”. De uma outra maneira, as duas últimas palavras haviam escapado à memória dos bichos. Mas estes viam agora que o sexto mandamento não fora violado.

Eis o poder da escrita, e o que acontece quando não a desburocratizamos, não temos o poder de atuar sobre ela, não a registramos, somos facilmente manipulados.
No mundo ocidental, a escrita materializa pensamentos, transforma uma banal idéia em documento. Então vamos ao canto da sala onde as cameras do grande irmão não nos filmam e vamos registrar, fazer jus a nossa existência e escrever a nosso modo, a história/conhecimento memória.

Com Angela, lemos um trecho do livro 1984 de George Orwell e debatemos a importância da escrita no mundo ocidental:
O poder imenso da escrita, não a nada mais importante que a escrita.
Mídia: telejornais, novelas e cinema, antes existe o roteiro, escrita.
Jornal: escrita, fatos escritos, leitura da informação.
Música: antes da melodia, existe a letra, versos escritos, escrita.
Livros são o ídioma, idioma é o país, livros são o país.

Tarefa de descanonização da escrita:

Uma paixão inesperada, escrita! (processo de quem se arrisca na escrita, primeiros passos)

Largou a mão de e saiu correndo.
Ficou petrificado!
A brisa matinal, abraçou.
Saudou fazendo um carinho desajeitado como o modo certo de agir, com a recepção.
Tremia como um idiota,
Respirou fundo e rumou na direção.
-Que surpresa.
-Tudo bem. - olhava em todas as direções, para ele.
Ela ficava assim sem jeito, tinha ímpetos de tomá-la nos braços e protegê-la contra dragões e gênios maus, como um ridículo príncipe encantado:
O porteiro.
Para levar flor à escola, professor.
Obrigado, vá flor.
Soltou a mão, embora relutante.
Virá me ver.
Ela soube o que dizer, veio em seu socorro:
- Falaremos sobre isso, flor, não deixe esperar,
Informou a criança.
Fez um beijo no rosto, abraçou é logo.
-Divirta-se, querida. vejo voçê,
Voltou-se para ele surpresa.
Salto a distância:
Até algumas semanas atrás, flor vivia uma vida sem objetivos. Não frequentava a escola com regularidade, não tinha amigas...Está recuperando o tempo perdido. Também quer trocar de nome por um mais bonito.
Sorriu, e foi como nos sonhos, um sorriso quente e divertido.
-Então, o que faz?
Não ouso pensar.

Uma paixão: cotidiano e só.
(quem não escreve, processo de quem só faz aquilo que lhe mandam e nada mais, vive com mau humor, pois não enxerga além do que lhe mandam fazer)

Acalme-se, você terá seu crachá.
Meu nome é, propósito específico.
O que sugere?
Acho que...
Ah, entendi, permaneceu calada, uma sonora gargalhada.
Muito bem, pense a respeito de seu novo nome:
Obrigada.
Que aulas terá hoje?
Omitiu, e vou dormir.
Ficou satisfeito, um pouco emocionado, era evidente, nunca tivera se divertir muito.
Dormindo na casa, daí, cheia de compromissos até o outono.
Divirta-se flor.
Sim?

E é lógico, acomodações da faculdade, sem querer nessa tarefa.
Veremos:
Era uma linda manhã de verão, e o sol iluminava com generosidade os prédios do campus e a capela medieval. Até mesmo as gargulas de pedra sobre os beirais pareciam menos sinistras e prontas para dançar.
Sentiu a alma em, mau humor.

Textos/poesias que me vieram ao acaso em um exercício angelical de descanonização da escrita, nada é por acaso, pois no nosso dia dia vemos esses dois tipos de pessoas/educadores. Não me vejo apontando, e sim sugerindo uma reflexão.
Esse é meu papel, instigar, este é o papel da minha escrita/poesia.

E assim, tombamos a escrita de todos os seus invisíveis pedestais.
Enquanto a arte...
Nós artistas temos também como meta, negar o velho e criar o novo. Então, sugiro um não ao debate, a comparações onde questionamos uns aos outros e fechamos a cara ao oposto. Desta forma não educamos e nem aprendemos. Sei que cada um vive muito bem com suas faculdades e não estão nem aí para o restante. Esvaziar a cuca faz parte do longo processo do educar. Um sim a ação, produção e realização.
Por sinal, quem já escreveu ou leu hoje, quem está pintando um quadro, quem produz e quem consome mais do que produz? Quantas embalagens você abriu hoje?
Você é um artista!

Por hora, minha arte brinca ao tentar engatinhar no chão da sala, eu como ser humano me ocupo de um simples ofício/arte, um arte-fício, arte educação da vida real e cotidiana. Pois aprendo com tudo e com a minha arte não seria diferente.



Bonus(para bom entendor uma poesia basta):

A prova do artista
"o olhar lírico"

Posso imprimir minha xilogravura diária das coisas,
Fazer várias impressões sobre minha xilovida,
(do 1 ao tanto, 100 de 1000, em série mesmo).
Minha vida, meu veio.
Eu em meus dias, a goiva,
Vivendo a goivadas.
Estou imprimindo um novo olhar sobre as coisas,
Captando a luz das coisas.
Dias em acontecimento, a matriz,
A poesia é a colher de pau que imprime o meu parecer sobre as vivências.
A cada cordel talhado,
A cada impresso psicogeografado,
A cada pensamento varal lotado,
Percebo não me influênciar com o ambiente
E sim influência-lo.
Jamais um espectador,
E sim um transformador,
Informador, por excelência, educador,
De olhos, abridor.
Pois, do cordel a Baudelaire,
O lírico sabe o que quer.







Brun0 Pastore!

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